Take a walk on the wild side

Holly came from Miami, F.L.A.
Hitch-hiked her way across the USA
Plucked her eyebrows on the way
Shaved her legs and then he was a she
She says, Hey babe
Take a walk on the wild side
Hey honey
Take a walk on the wild side

Não foi com surpresa que vi o P. assumir a sua orientação sexual.
Sempre o soube, mesmo quando ele insistia em esconder, ou mesmo quando se forçava a ser diferente.
No dia em que me disse estar preparado para viver a vida sem tabus, fiquei feliz.
O primeiro "confronto" foi com os pais.
Acedi ao seu pedido. Estar ao seu lado na altura em que o fizesse... caso lhe faltasse a coragem, dizia ele.
Lá fui eu jantar na casa dos seus pais. A mãe dele que não me via há algum tempo, fico super animada. Deu-me carinhos, elogios que acabavam sempre com a minha cara presa nas mãos dela. Um amor, aquela senhora! E uma cozinheira fantástica.
Jantámos quase em silêncio... Eu lá ia respondendo a umas perguntas sobre como estavam os meus pais... projectos e planos para o futuro...
Até que antes do café o P. diz: "Mãe, Pai tenho uma coisa para vos contar."
Olha para mim, com ar nervoso. Eu aceno com a cabeça.
A mãe do P. solta um: "Ai Meu Deus, que alegria! Que alegria! Ai meus ricos filhos, fico mesmo contente. Ai que booooom!"
O pai do P. estava completamente out. Ela resolve explicar: "Então M. não vês que estão a namorar... são um casalinho mesmo lindo, não são?!"
Eu fico perturbada, penso "oh fuck, isto não vai correr bem...", sorrio e digo que não é bem isso... faço um sorriso parvo.
O P. esclarece as coisas à velocidade da luz. Diz: "Não somos um casal. Eu sou gay. Gosto de homens. Sempre o soube. Peço desculpa se vos desiludi."
Silêncio.... Silêncio.... Ninguém pestanejou sequer.
Eu fiquei com os olhos postos nele. Queria saber o que dizer, mas as palavras não saíam... Dei-lhe a mão. Ele segurou-a com força.
A mãe, começa a lamentar-se... em tom de choro. Fica aflita porque não irá ter netos. Não pára de repetir a mesma frase: "E então os meus netos, como vai ser?"
Eu fico com um nó na garganta e um aperto no peito.
O pai do P., olha fixamente o filho... Antes que o P. possa dizer alguma coisa, o pai diz-lhe: "Quando tu nasceste, jurei que iria fazer tudo para te ver feliz. Queria que a tua vida não fosse pesada. Nem quero imaginar o peso do que escondeste este tempo todo. Quero-te feliz, ouviste?! Seja com um homem ao teu lado, uma mulher ou ninguém. Só te peço uma coisa, que tenhas paciência comigo, terás que me ensinar muitas coisas... é tudo novidade para mim. Desculpa-me se algum dia te magoar, não será por mal."
O P. emociona-se, abraça o pai, entre soluços lá lhe vai dizendo uns obrigados e uns amo-te.
Eu pareço uma maria madalena. Chorava de felicidade, de orgulho, de alívio...
A mãe do P. ainda demorou algum tempo a aceitar o que tinha acabado de acontecer... mas recebeu conforto do marido e carinho do filho.
Percebemos que tudo estava bem quando ela anunciou que o café seria acompanhado por um bolo de noz.
O resto do jantar não falámos mais do assunto. Rimos de histórias quando éramos pequenos, vimos fotografias.
Lembro-me de ir para casa nesse dia, com a noção que tinha vivido um verdadeiro momento de amor. Lembro-me de querer chegar a casa. Lembro-me de abraçar os meus pais, de lhes dizer que gostava muito deles, lembro-me do ar desconfiado e confuso deles.
Mas sobretudo lembro-me do olhar do P. Um olhar seguro e feliz, que nunca tinha conhecido.

Love you P.!!!