sábado, 16 de janeiro de 2010

Mr. D.

Hoje é a festa de aniversário do D.
O D. é um dos meus melhores amigos. Daqueles que nem preciso de explicar nada, que ele percebe logo o que se passa só de olhar para mim.
O D. é também o gajo mais bem parecido que conheço. Como costumamos dizer, Deus foi muitooooooo generoso com ele.
Conheci o D. por questões profissionais e confesso que a coisa não correu nada bem.
Era a novata, a quem a chefia pediu o favor de comunicar ao D. quais as funções para esse dia.
Não sabia quem ele era, só percebia que as meninas cada vez que pronunciavam o nome dele, suspiravam.
Lá fui ter com ele, e transmiti-lhe o recado.
Ele respondeu torto, e disse-me: " Olha lá, mas eu nem sequer te conheço."
Eu respondi com ar de enjoada: " Pois, não terás esse prazer e eu serei poupada à tortura de te ouvir!"
Ele deu uma gargalhada e disse: "Acho que nos vamos dar bem."
Naquele dia fiquei com a impressão de que ele era um gajo parvo e cheio de mania. E eu detesto gente assim.
Não lhe achei piadinha nenhuma, e não vi beleza alguma nele.
O tempo foi passando, e desenvolvemos uma relação de amizade.
Naquele meio era a única colega que se relacionava com ele. As outras, não conseguiam construir uma frase na presença dele... Ele lançava um olhar de sobrancelha arrebitada que as miúdas ficavam incomodadas, e ele não perdia a oportunidade de arrasar com elas. O discurso era mordaz, acutilante... e ele jogava bem com as fragilidades e incertezas de cada uma. Um real sacana, sim senhor!
Comigo nunca resultou. Talvez porque a primeira impressão que tive dele não foi nada boa. Mas o tempo foi-se encarregando de me mostrar que a frieza dele nada mais era que um mecanismo de defesa.
A amizade foi crescendo, a confiança também...
Por isso era ao D. que recorria muitas vezes para pedir conselhos. Curioso é que quando lhe pedia um conselho a nível amoroso, ele tecia as piores considerações sobre o homem em causa. Para ele todos os homens eram à imagem dele.
Eu ficava de rastos. Mas ele dizia que me preparava sempre para o pior, que assim ao menos não podia dizer que não tinha sido avisada.
E ele detestava ter esse tipo de conversas comigo. Falar sobre sentimentos, sobre amor... era como arrancar-lhe dentes a sangue frio.
Guardo contudo a memória, de quando terminei uma relação que me deixou profundamente triste, ele foi ter comigo e disse-me: "Dou-te meia hora para chorares no meu ombro. Tens esse dever. Depois, ainda que te custe, quero que levantes a cabeça com o olhar fixo no horizonte. como se fosse lá que o teu orgulho está à tua epera.""
Chorei a meia hora. Sequei as lágrimas. E ele presenteou-me com um gelado gigante no Galetto, e uns quantos disparates que me puseram a rir a tarde toda.
Naquele dia não tive dúvidas da amizade que nos unia.
Assim tem sido ao longo dos anos. As férias juntos, as saídas, os jantares, as viagens...
Não imagino a minha vida sem ele.
E até tenho orgulho por ser a única amiga que ele diz ter.
Ainda que seja chato para caraças, ir a uma festa em que não posso falar com ninguém sobre sapatos ou maquilhagem... humpf!

1 comentário:

  1. Já tive uma relação parecida, mas com um grupo (de gajos), que era muito interessante... fartava-me de rir. O problema de ser um grupo é que acabou por se desfazer, um para cada lado.

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